Conforme prometido — a mim mesmo, diga-se —, aqui está a outra igreja que, de entre as centenas que existem em Roma, me deixou de olhos esbugalhados e torcicolo onde assenta a cabeça. A caminho da Igreja de Santo Inácio de Loyola, um dos nossos guias ia dizendo ao que íamos: o enfoque era a “cúpula”. (E, aqui, as aspas nunca fizeram tanto sentido, já que não falamos propriamente de uma cúpula, mas de um tecto completamente plano.) Esta tem a particularidade de iludir o olho do visitante por, à entrada, parecer uma cúpula normal, destacando-se pela sua tez escura.
Porém, estamos diante dum exemplar daquela técnica designada por trompe l’oeil, que se serve de truques de perspectiva para iludir o olhar. Portanto, é isto que, na prática, está pintado:
Pelo que li, os jesuítas contrataram Andreas Pozzo para fazer aquela pintura, porque fazer uma cúpula como deve ser, iria provocar uma séria derrapagem no orçamento.
Mas, lá dentro, aquela obra viu-se ultrapassada de imediato pela grandiloquência da pintura na abóbada da nave principal, também ela do mesmo autor — por muitos considerada a sua obra-prima — , conhecida por apoteose de Santo Inácio.
Como se pode verificar, trata-se de uma abóbada normal, semi-cilíndrica, a que o autor, quiçá por inspiração divina, nos deslumbra com isto:
O efeito da ilusão é tão convincente que o espaço literalmente suga o observador e o incorpora aos eventos mostrados na pintura. Através da contemplação das figuras pintadas no teto, o corpo físico do observador como que perde peso e é atraído para o céu através de uma descrição artística de uma verticalidade até então inédita. (Grau, Oliver. Virtual art: from illusion to immersion. MIT Press, 2004, pp. 48-49. Transcrito da wikipédia)
Infelizmente, não me é possível reproduzir aqui as sensações provocadas e a vontade de estar ali horas a contemplar aquele fresco naquele espaço que acaba por se revelar tão aberto, que nos remete inapelavelmente para o alto, dando continuidade às paredes levantadas pelos cantoneiros.
Tracei aqui umas linhas para se perceber melhor:
E aqui:
De referir que a primeira linha inferior indica a parte superior da parede e, por conseguinte, o início da abóbada propriamente dita, onde pontificam mais dois níveis arquitectónicos e a posterior abertura que remete para a figura central que é o próprio Cristo (e não Santo Inácio, como podem, compreensivelmente, imaginar).
O observador é capturado por um arroubo de beatitude, cuja meta e ponto final é a figura de Cristo… a composição integral pode ser comparada a um remoinho centrífugo que nos faz perder a consciência, transporta-nos para a eternidade e nela nos ancora. (Grau, Oliver. Virtual art: from illusion to immersion. MIT Press, 2004, pp. 48-49. Transcrito da wikipédia)
Gostaria de ter captado imagens de cada rosto, cada elemento, cada motivo daquela imponente pintura. Apesar de não ter sido possível, deixo aqui algumas que têm o condão de nos fazer sentir pequeninos e com uma vontade imensa de também treparmos por aquelas colunas.
Reparem no desdém com que algumas dessas personagens nos olham: