
O fim de semana foi diferente. Festivo. Fomos até às margens do Dão participar n”O” momento da vida do Tiago e da Quéli. Até aqui tudo bem. Seria um casamento normal, tirando o pormenor de não contemplar cerimónia religiosa. Falo de mim que já fui a muitos enlaces e todos eles se passaram (mais ou menos bem) em igrejas e com direito a padre. Este não.
O Tiago conheço-o há alguns anos. Era ele monitor na colónia de férias de que eu era coordenador. Imediatamente lhe reconheci a excelência no que fazia e a empatia que criava com as pessoas que o rodeavam. Para mim ficará sempre no quadro de honra dos rapazes e raparigas que serviram na casa amarela. E dentro de mim uma vaidade peculiar por tê-lo tido sob as minhas “ordens”. Da Quéli não posso dizer muito. Mas se ele a quis para companheira de aventuras, terá a minha estima porque, decerto, partilhará do carácter da sua cara metade.
Voltemos ao casamento. Numa quinta, como muitos. Com convidados, como muitos. Comida em abundância como muitos. E… honestidade, como poucos.
A cerimónia foi simples. À boa maneira “civil”, a senhora funcionária cumpriu a sua função e até disse algumas palavrinhas que passaram bem por homilia. De permeio, os progenitores dos nubentes usaram da palavra para desejarem votos de felicidades. Nesta parte o pai do Tiago disse os votos do dia, palavras essas que mais tarde lhe agradeci pessoalmente por serem a pedrada no charco que precisamos e, sobretudo por revelarem a essência do que deve ser a natureza humana e, neste caso, dos protagonistas da festa.
Declarou-se católico. Com quotas em dia, que é como quem diz, praticante. Que tinha pena, nessa sua condição, por o seu filho não ter optado pela cerimónia religiosa. E deu-lhe os parabéns por isso mesmo. As pessoas querem-se com coluna vertebral; delas espera-se coerência e muita verticalidade nas opções que tomam. Porque não é fácil fazer uma decisão deste calibre. É muito mais agradável fazer as coisas porque é costume, porque é assim que os outros gostam, porque é mais giro… É agradável e hipócrita.
Estes noivos conquistaram-me por isso: foram fiéis a si próprios e, com isso, provam que essa fidelidade é o “leitmotiv” que os manterá unidos e firmes pela vida fora.
Enquanto escrevo isto, assumo inequivocamente a minha opção cristã e a minha religiosidade. E costumo dizer que em 10 casamentos pela Igreja, deverá haver apenas 1 ou 2 que o faz conscientemente e porque essa é a verdadeira opção dos noivos. Todos os outros serão fogo de vista. É duro, mas é verdade.
Quéli e Tiago: obrigado pelo dia. Independentemente do local paradisíaco, dos convidados fantásticos, da comida abundante, agradeço a vossa presença na vossa festa. Pode parecer estranho, mas já fui a tantas onde os anfitriões estavam ausentes, deixando a responsabilidade a uma máscara de si próprios. Vocês estiveram connosco e deixa-me feliz saber que tenho amigos assim: que estão e são de forma íntegra. Isso é motivo de sobejo para desejar e ter a certeza de que vão ser felizes.
E deixo-vos com o texto (bíblico, curiosamente) onde se inspira a vossa aliança:
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
1 Cor 13 1-13